No quintal da minha casa a Tília já tem flor. Amarela, cheirosa abraça minha noite. Dengosa espelha meu corpo na cama.
Sonhei que era menina perdida de amor. Pedi sem licença um beijo na boca. Explodi de saudade. Contei devagar o rosário numa novena sem fim. Chorei tão de mansinho que nem Deus escutou meu lamento.
Encosto o peito de meu pé direito ao joelho esquerdo, envolvo meu ventre em sinal de respeito - respiro. Sentada faço da vida memória do que não vivi.
Bem me quer, mal me quer - minha infância distante. Na noite de São João roubo uma faca limpa, penso no meu amado e espeto na babaneira que vive no quintal da Dona Aurora. Vou contar sete dias para depois conferir se ele me ama.
Antes vou ser a noiva da festa. De braço dado com meu par me agacho e atravesso meus companheiros de dança. Um braço abraça meu corpo criança.
No sofá da minha sala um amigo adormece embriagado. No meu quarto encontro a cama ainda só minha.
- Boa noite amigo. A noite é quase manhã.
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