08/06/2007

PROMESSA

Eu sei que te prometi ser objectiva, nada de Hello Kit nem laços dourados. Você me exigiu um relato quase científico. Imparcial! Assim como te ensinaram na escola.
Meu querido amigo quando acordo não sei se o dia amanheceu ou se a noite ainda se arrasta, por isso dê o desconto que o meu tempo é diferente do seu.
Na cozinha Joana passa a ferro as calças de Eduardo olhando de soslaio a novela da TV. Com o olho esquerdo solta uma lágrima com o lábio direito sorri. A menina miserável da favela vence todos os obstáculos e casa com o jovem advogado milionário.
Distraída, Joana queima o fundilho das calças do patrãozinho. Irreparável o erro de quem afaga o coração nos lacinhos cor de rosa da televisão!
Um ai Meu Deus que desgraça ecoa em cada canto da casa.
- Patrãozinho desconte no meu salário…
- Nem dois anos de salário pagam essas calças mulher
- Leve a televisão Sr. Eduardo … O sr se lembra daquela actriz de cinema? Aquela que se casou com um rei? A gente acredita. Meu coração diz que isso é verdade. Quando me deito largo a vassoura e me visto de princesa. O senhor tinha que ver – fico tão bonita. Quase parecida com a moça da novela. Um homem me abraça, assim parecido com o seu irmão, o Dr. Vicente. Todo de branco conta que vou ser operada. Sofro de uma doença mortal! Imagine como fico, Sr. Eduardo. Meus peitos, desculpe, meus seios ficam tão duros! E não sei bem porquê minha mão não para quieta. Desce pelo meu corpo. Ai que vergonha, desculpe. Nem sei bem porque falo nisso. Mas olhe, se depois me despedir, é como fala o povo: morro feliz!
- Mulher…
- Espere doutor, preciso acabar. Minha mão. Esta aqui – a direita, sobe e desce. Depois para nas minhas vergonhas. Não sei o nome educado … O meu sexo entende? O seu irmão, o homem que se parece com ele, tem na mão uma injecção. Diz que é para eu me acalmar. Faz parte da minha doença essa vontade de me molhar! Eu peço que ele espere um pouco. Está quase, o senhor me entende… Mas ele não deixa, sr. Eduardo. Ele não entende que eu preciso acabar! De repente grita e me ameaça. Diz que se eu não me tratar não se casa comigo. E eu… ah doutor, só me quero casar com um senhor assim da alta sociedade. Toda de branco, com véu e grinalda…
- JOANA! Olhe a minha camisa imbecil…
Meu querido, te juro que foi assim mesmo o enredo daquele assassinato, sem nenhum laço dourado. A Hello Kit descansa em cima da televisão.

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