20/10/2013

menino-homem

Enfermo desde nascença, sofria de doença rara. Uma vontade que não se explica nem se cala. A mão irrequieta, uma dor contínua no peito que pede clemência. Em criança sonhava em ser aceite no coro da igreja. Com o peito desnudado, junto ao altar cantaria o amor pela graça de Deus. Padre Dominico castigou o desejo do menino que nasceu com um violino no coração proibindo-o de sonhar.
Nas noites de tempestade, abria a janela e tirava a camisa do seu pijama de flanela. Quando a chuva encontrava o seu corpo, o violino desabrochava e o menino-homem tocava até que a chuva calasse.
Tenho entre os dedos, sementes de onde brotam poemas.

Em cada vão de escada a memória de um compasso que se perdeu. Um velho demente foi para rua de tronco nu e tocou meditação. Um velho doente morreu. Tinha um violino velho e gasto, colado ao seu coração.


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