03/03/2013

Sete anos de azar


Corri astrólogos por mais de um ano. Cleo, de regresso ao Brasil aconselhou-me vários. Parece que me estava negada a casa da sorte. Desanimada, aceitei consultar-me com Marta.- Lamento dizer-te, mas ainda vais ter de esperar por mais sete anos, até passar esta fase. Olhei para ela pedindo por tudo que me dissesse que estava enganada. Como conseguiria sobreviver à dor que tomava conta de mim?Marta era um mulher culta. Disse-me que todas as manhãs conferia com os astros como seria o seu dia. Lembrei-me do boletim metereológico. Nem sempre acertavam na previsão do tempo. De alguma forma isso trouxe-me algum conforto - se calhar os sete anos de azar não passam de sete dias.Deu-me um abraço quando nos despedimos. Emocionada, deixei-me ir. - Não fiques assustada. Vou ver de novo o mapa. Posso ter-me enganado. Caso esteja certa, ficas desde já preparada. Sempre é melhor saber do que ficar na ignorância.Saí da casa de Marta, com uma parte de mim a pedir cuidado e outra a dizer que não desse importância. Pautar cada acto da vida tendo como premissa que estou debaixo do azar é demasiado.Vagueio pelas ruas como se todas fossem a mesma. Do lado esquerdo, o rio acompanha-me sereno. Pudesse o rio sentir o meu vazio, navegar em mim até a tristeza e encontrar outro destino. À minha direita nasce Lisboa, amarela e rosa como se fosse um samba de Noel Rosa.Como caminhar sem destino se acabaram de o desenhar? Sete anos penosos, com a promessa de que a partir do oitavo eu serei feliz. Um, dois, três, quatro, cinco, seis e sete passam tão depressa como um abrir e fechar de olhos. Depois, o paraíso será só meu. Amar e ser amada, não importa a forma. Lembro de ver o mar da minha janela e sentir saudades das viagens que não fiz. Agora com a sentença de sete anos de purgatório, esqueço a vida que nunca tive. Solitária, sonho com ela do lado de lá da tela.Foi num sábado que o conheci. Franzino, com uma bengala a apoiar o corpo. Olhava-me de baixo para cima e sorria. Deu-me de presente uma aguarela japonesa enrolada num papel pardo. Mais velho que eu, partiu antes que o conseguisse alcançar. Na minha mão esquerda sempre morou a dor, como esta que agora assalta o meu futuro. sete e sete são quartoze, com mais sete, vinte e um. tenho sete namorados e não gosto de nenhum...Ao contrário da canção, sempre gostei de todos.Quis perguntar à Marta se estes dois últimos anos difíceis seriam descontados dos sete fatídicos. Não me deu resposta. Acho que faz parte de todas as previsões uma margem de erro. Às vezes anunciam que chove e o dia mantêm-se ensolarado. Assim, o melhor será que eu espere por mais sete anos de penas duras. Sempre que vou ao médico acenam-me com maleitas que desconheço, sofro depois com todos os sintomas das doenças e os efeitos colaterais dos medicamentos. Se pudesse voltaria atrás e nunca teria à ido a esta consulta. Acordaria de manhã, sempre com a esperança que o dia fosse melhor que o anterior. E se assim não fosse, tentaria entender a razão. Esperam-me sete anos sem cor.
Diz-me Gabriel, qual é a canção que me liberta desta sentença de Plutão?

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