13/03/2013

Epílogo

O apartamento onde vivíamos tornou-se pequeno. Um silêncio pesado ergueu-se no meio da sala, como se fosse uma escultura gigante. Branca, ocupou sem pudor o espaço onde nos sentávamos. Uma estátua cresceu entre nós, de uma forma desavergonhada. Delimitou a fronteira da nossa existência.

1 comentário:

  1. Roberto levanta-se do sofá e toca levemente na escultura. Sempre que seu dedo roçava-a, esta crescia cada vez mais. O branco refulgia naquela sala, quebrando arestas, formas e corpos de tal forma, que o tempo desencadeou um clarão gigante e apocalíptico. Se antes as fronteiras existenciais estavam delimitadas, agora o fogo tudo devorava, quebrando as leis da geometria ditadas por Jeová aquando o início dos tempos genesíacos. Do fogo surgiam demónios abrasivos com fumo preto. Sua sede era tal que se agachavam na escultura com seus falos na mão para a violarem e a assassinarem. A estátua gemia de dor pois apesar de ser feita de mármore, sentia seu sangue a rasgar todos os poros que a formavam; a estátua gemia de prazer pois finalmente sua alma, longamente confinada àquele bloco de mármore, começava a soltar-se e a voar. Saciada a sede, os demónios ao fogo regressaram, regressando este aos confins da terra. Do apartamento e da estátua nada restou. Simplesmente um melro a pousar suas patas por cima de um ramo de salgueiro. Roberto beijou Teresa e o sino da igreja repicou.

    ResponderEliminar