03/10/2008

A realidade é apenas um pormenor

Chegada. Primeira noite (quinta-feira)

Acordei sabendo que era hora de ir. Uma dor de estômago viaja comigo desde ontem. Aperta meu corpo com força como se quisesse me distrair daquela dor que me acompanha há tantos anos. Acabo cedendo e me deito no sofá. Fecho os olhos, colo meu corpo ao tecido. Impossível viajar neste estado!

São mais de 200 km, e eu nem sei o caminho. Sempre fui conduzida. Algures sei que é a sul, mas a verdade é que me lembro somente do destino.

Um monte alentejano azul e branco. Um monte onde trilhei o feijão verde da sopa. Um monte feito de sorrisos. Um monte onde quero encontrar paz.

Ele me olha quase sem paciência. Em silêncio pede que eu me faça a caminho. Devolvo um olhar sem forças. Devolvo meu cansaço e com ele o desalento destes últimos dias. Tanta dor!

Acompanha-me ao carro. Distante beija minha face desejando boa viagem.

Sem cor digo que sim, obrigada. Lembrança das despedidas a jurarem amor.

Em cada abraço, um abraço mais apertado não desejando partir. Os beijos pedindo regresso.
Com os mesmos actores hoje o abraço se larga pedindo partida.

Ao meu lado uma amostra de cão. Lambe minhas mãos sempre que troco a mudança. Ama sempre.

Atravesso a ponte. Paro num posto de gasolina. Como sem vontade. Bebo sem sede. Meu corpo pede descanso e minha cabeça não para. Quem dera meus ouvidos pudessem ser toneiras – esvaziava a cabeça. Seria um derrame de coisas sem nexo. Deixava escorrer até nunca mais encher. Seria sem cor o excesso – seria nada o vazio.

Afinal porque tanto medo, se já vivo sozinha? Porque esta recaída?
E se...Ai esta dor que não passa!

Não me lembro deste caminho. Devia já estar a chegar. Todas as estradas têm um destino de chegada. Voltei a distrair-me. Caminho com a pretensão de saber o meu destino. Se errada insisto é porque nem sei onde recuar. A vida toda ri-me destas distracções. O charme da loucura. Hoje isto vai-me custar mais gasolina e cansaço. Que beije a loucura outra pessoa - a minha vida pede cada vez mais discernimento.

Um caminhão obriga-me a reduzir a velocidade. Uma atenção extra ao caminho. Uma placa a indicar Beja. Tenho de seguir, não há espaço para nenhum retorno. Fui sempre assim. Se errava encolhia os ombros e pensava que mais à frente haveria espaço para corrigir o erro. Nunca dei conta do estrago.

Encosto na berma da estrada. Quem sabe um mapa me ajude a seguir boa viagem. Nada!

Resta-me a intuição de saber se sigo para sul... Cada quilómetro a mais, menos dinheiro no bolso! Que arrogância achar a distracção qualidade de quem é criativo.

Se eu conseguir chegar a Almograve deito-me. Meu corpo pede descanso.

Um louco perdido teria chegado com menor dificuldade ao seu destino.

Medo da chegada. Medo da partida – cem mil vezes repetida

(“Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.

Partem tão tristes, os tristes,
tão fora de esperar bem
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.”
João Roiz de Castelo-Branco)

Cansada procuro repouso. Lá fora adivinho o verde.

Sono agitado. Lembro o sorriso dela – sempre tão doce. Como estou magoada!
Só fui capaz de falar do meu amor por ela – não me permiti dizer-lhe como percorre a dor no meu corpo em cada sorriso trocado. Ele ou ela – sofro da mesma maneira, amando os dois.

Uma neblina adivinha-me.

À noite sem ar - de dia a procura de respirar.

Quando ele trocou minha companhia para assistir ao Tango, pela ida ao supermercado adivinhei meu lugar. Nunca mais seria eleita à partilha das boas coisas da vida. O resto seria cada vez mais igual: comprarmos leite e sabão da mesma marca. Hoje compramos produtos sem marca.

E se o branco me envolve na lembrança, a ele o abraça em cada caminhada.

Segundo dia (sexta-feira)

Desço à vila. É urgente aprender o caminho de casa. Em Longueira, paro à esquina de um café.

A dor no corpo cresce. O cansaço desfila em mim como se fosse o actor principal. Não sei se me ancoro na dor. Com insistência questiono cada pormenor. Duvido da verdade dele. Não aceito sua voz sem cor a cada:

- já não te amo.

Sei do seu amor por mim, mesmo que negue eu duvido e insisto que nem ele sabe o que eu sei. A compor a loucura vem a culpa e o desejo dela a reiterar a minha verdade.

- Fica! Ninguém vive com outra pessoa 30 anos sem gostar...

Lá fora o verde se espalha. Não faço almoço. Não leio “As velas ardem até ao fim”. Não vejo nenhum dos filmes que trouxe, nem faço origami. Deitada na rede tento entender o universo. Não consigo parar de pensar.

Quem sabe à noite...

Devo regar a horta. Devo colher o fruto maduro antes que aprodeça.

Não sei dos temperos. Reconheço as courgetes. Vejo a terra seca esperando que eu aja.

Longe de casa nasceram espontaneamente tomates cereja. Por baixo deles, numa caixa preta correm os nossos dejectos. A vida transforma o excesso em vida. Parte de nós adubo. Parte de nós um intervalo de vida..

Nove da noite, adormeço sem querer. Acordo enrolada no sofá da sala. No meu quarto Babu adormece debaixo da cama.

Quem dera eu fosse o tomate cereja!

Terceira dia (sábado)

Um litro e meio de água e passo a noite em viagens múltiplas à casa de banho. Cada vez que me levanto Babu sai debaixo da cama para me acompanhar.

A conversa com Cleo pertubou-me. A minha loucura faz-lhe mal.

- Apague esse homem ou vou acreditar que você gosta de sofrer. Ele não te ama

Febril justifico cada um dos meus actos. Digo a Cleo que ela não vê o que eu adivinho. A sua insistência beira a crueldade. Cleo aflita tenta agitar-me. Lembro cada bofetada de meu pai pela minha falta de auto-estima. Cleo não sabe como isso me faz mal. Peço então que não fale mais de mim, que não estou preparada. E Cleo agora relaxa.

Na cama essa conversa torturou meu sono.
De manhã me contento com café e um pedaço de queijo. Arrisco um cigarro e apago. Finalmente meu corpo vai dizendo não.

Passo a manhã na rede. Passo o dia ameaçando que vou tomar banho. Continuo sem vontade de nada. O verde continua do lado de fora. Um verde que meus olhos não vislumbram o fim.

No fim do dia ganho coragem. O sabor da água no meu corpo traz-me a saudade de mim. Toco meu sexo timidamente.

Saio do banho esquecida da dor. Lá fora a rega automática lembra-me que devo regar a horta.

Entre a rede e o sofá vou existindo. Prometo que amanhã medito, prometo que amanhã serei outra pessoa.

Agora na net de novo com Cleo partilho a minha loucura. Meu vício de ser.

Só me separo para provar que ele afinal gosta de mim. E Cleo se assusta de novo. Explico a Cleo que é o que todas as pessoas fazem. Ninguém confessa a esperança de estar errada. Ninguém confessa a esperança de estar certa. Ninguém conta como é fraca a motivação. Digo a Cleo que se esse for o caminho para a cura que me deixe segui-lo.

Rego a horta porque é necessário. Devagar vou aprendendo a ter prazer na tarefa.

Amanhã será outro dia. Vou tentar descansar. Devagar vou perdendo o medo de existir.


Quarto dia (domingo)

Hoje o Alentejo fecha suas portas. Quem é estrangeiro e não foi às compras ontem, hoje não come. Comércio fermé/closed, etc e tal. No final da rua a peixaria ameaçou abrir. A vontade ficou só na vontade.

Duas latas de atum, azeite e ovo para a maionese. Improviso uma pasta de atum no pão. Não sei da minha dieta. Escapou-se com a minha vontade.

Peço a Cleo que leia este diário. Retorna dizendo que literariamente está impecável, o conteúdo é insano.

Não confesso a ela que só queria saber se estava bem escrito. Quero entender o processo. Se debaixo da dor meu texto é outro. Mas não pergunto a Cleo.

Uma dúvida aperta meu coração – de novo.
Que amor é o deles que se suspende? Quantas bombas serão necessárias para cuidar da minha falta de ar quando eu adivinhar o olhar dele pousado no sorriso dela?

Já fiz mil planos. Saio de casa e ponto final. E o dinheiro? Quem paga a mudança? E o dinheiro da caução? O raio que me parta porque estamos presos pelo mal!

Cleo pergunta:

- O que você vai fazer no Domingo quando chegar à Lisboa?

Quase duas da manhã. A vontade de um cigarro me empurra para a cama.

Talvez consiga dormir.

São três da manhã. Uma dor no peito atravessa a dúvida.
Nenhum amor se suspende. Chegou a hora de largar.

Junto do canavial nascem tomates cerejas adubados pela merda.

Quem dera eu fosse um deles.

Quinta dia (segunda-feira)
Primeira meditação

Oito e quarenta e cinco. E eu achava que tinha dormido com os anjos.

Improviso duas almofadas no chão. Sento.

Atenção plena às sensações do corpo. Vinte minutos entre a vontade de estar e a de me afundar no rodopio da mente. Não sinto nada até a virilha e nesse lugar quase me perco. Depois a dor casa com a mente na barriga. No peito um ameaço de alívio. Quero ficar por aqui. É um descanso repousar no coração. Sem esforço sorrio. O caminho para a nuca é tão doloroso!

Vou à VilaNova. A ideia era fazer um supermercado. Nada mais cansativo. Tiro da prateleira e volto a colocar. Fico-me por um garrafão de água, amêndoas e farelo de aveia. A comida deixou de ter importância.

Se estivesse em Lisboa, sofreria com a geladeira vazia. Lá fora há tomates cereja.

Sozinha me acalmo. A dor no estômago fez-se fiel companheira. Se ao menos fosse por amor!

Cleo teme pela minha vida. Não me apercebi de estar tão doente. Tento descansá-la. Tento me convencer que estou no caminho certo. Lá na linha do horizonte deve haver um pouco de paz.

Não paro de pensar na dor de Mário Sá-Carneiro. Um grito desesperado como prenúncio da morte. Cleo pergunta-me se tenho esses “pensamentos”.

Digo que não. Porém ontem não via vontade de vida. Hoje me entrego ao cansaço do corpo. Não resisto. Hei-de de conseguir repousar.

Queria olhar para ele com compaixão. Está fazendo tudo certo. Tentando viver.

Não me cabe a mim dizer se será o melhor caminho. Sou eu que me engano no caminho para o Alentejo.

Ela tem um sorriso de flor. O caminho é só deles agora.

O meu? Há-de ser aquele que eu escolher.

Adormeci no sofá enquanto lia As velas ardem até ao fim. Parei neste trecho:

“Um dia temos de perder a pessoa que amamos. E se alguém não suporta isso, não vale o esforço, porque não é um homem íntegro” (Sándor Márai)

Esquecida acordo nem bem disposta, nem triste – essa é a paz que procuro.

Sozinha vou cabendo no espaço. No Alentejo, por vezes escuto o elevador da minha casa em Lisboa - subindo, descendo. Sou até incomodada pelos gritos da gente da noite na rua durante a madrugada.

Trouxe comigo a casa para além de mim mesma. Não sei onde começo ou acabo. A cozinha desarrumada de Lisboa não cabe aqui no Monte. Limpar as camadas, uma a uma com paciência. Encontrar-me em cada superfície largada.

Lá fora distinguo o som do vento, o movimento do que parece parado.

Temo pelo tempo que corre e não me deixa chegar a bom termo. Cada segundo presente é tão intenso – ilusão que paramos no tempo.

Suspender o momento do nada ...
Daqui a pouco amanhece. Vou me deitar


Sexto dia (terça-feira)
Segunda meditação

Acordei as oito, mas desta vez deixo-me estar na cama. Só me levanto às onze. O sono da manhã continua a ser repousante. Tantos anos a trabalhar à noite e a dormir de dia habituaram meu corpo ao descanso da manhã.

A dor no estômago ainda me acompanha.

Depois de uma chávena de chá medito com o apoio de Adjan Brahm.

É a primeira vez que tento encontrar uma posição confortável antes de começar a meditar. Adjan Brahm dá o exemplo do cão que rodopia sem parar antes de sentar. Lembro do Babu alisando o chão como se esticasse um lençol. Rebolo a anca, dobro os joelhos, só paro quando encontro a posição de conforto.

Finalmente entendo porque há dias que passo a prática inteira em busca de conexão.

30 minutos de meditação guiada. O caminho da liberdade se faz encontrando a paz. Adjan Brahm fala pouco. A maior parte da prática é feita em silêncio. Notar a respiração até sermos somente a cadência do inspirar/expirar.

Esta é a primeira vez que sinto prazer na prática. Não consigo reproduzir nem o tamanho nem a qualidade da felicidade que toma conta de mim. Nunca senti nada de semelhante. O tom da liberdade é extenso – sem fim.

Não me preocupar com o passado, não ter medo do futuro somente estar neste intervalo de tempo que chamamos agora. Quando conseguimos sintonizar a nossa atenção ao segundo que estamos a viver somos o próprio segundo. Deixa de haver tempo porque é sempre presente. E tudo parece que para, porque somos o todo e o nada. Não sentimos a mudança porque somos a própria mudança. Será isso a liberdade?

30 minutos que me deixam feliz.

Ele me pede noticias na net. Quer saber quando volto, se estou bem e meu estomago reclama zangado. Se pudesse não saía daqui. No horizonte o verde continua verde. Tão verde que me embala.

Assusto-me com o telefone. Meus amigos querem saber de mim. Pedem que tenha força, aproveite a oportunidade para tentar ser feliz.

Dizem-me que já estive perto e me perdi no caminho. Respondo baixinho que nunca estive perto. Formalmente sim. Mas só formalmente.

Não sinto fome. Parece que a prática me alimentou.

Oito da noite e antes de sentar-me para escrever escuto uma palestra de Adjan Brahm em “Lidando com as emoções”.

Ontem a hipótese de ir viver para o Rio de Janeiro serviu de embalo. Hoje é um monte no Alentejo. Quem sabe um dia eu me baste.


Sétimo dia (quarta-feira)
terceira meditação


Passei uma noite agitada com falta de ar. A dor é pela família que fui perdendo dia após dia. Uma família tem sempre história. Boa ou má ninguém de fora entende até onde vai o sorriso cúmplice quando partilhamos o nosso passado.

Sonhei cada sorriso que trocaríamos perto do fim. Quando nossa filha nasceu fomos nesse momento um só sentir. Quando ela tocou piano, os dois embalados no canto queríamos aprender a tocar com ela. E cada conquista no seu ser fazia-nos sorrir.

Outro dia escutei de voz alheia uma história que era só nossa, acrescentada assim:

- Agora ele tem outra família...

Só hoje dou conta desta verdade. Insistimos no passado pensando ser ele o presente

A minha família de outrora é hoje somente memória.

Acordo agitada – com falta de ar.

Adjan Brahm fala de como trazer valor à meditação. Em seguida 45 minutos de prática. Meu corpo vai encontrando conforto. Tão bom conseguir parar. Como é intenso o contraponto do meu corpo imóvel face a esta mente inquieta. Aos poucos vou aprendendo a não esperar da prática senão estar presente. Aos poucos vou aprendendo a largar sem me preocupar com o significado de cada pensamento. Diz Adjan Brahm:

- Se a mente ainda produz ruído tentem notar no intervalo de cada pensamento o silêncio

Choro de felicidade porque nunca tinha dado conta desse intervalo. É nele que fazemos a cadência da nossa existência. Como a pausa numa pauta de música, o branco na pintura do artista ou a palavra que se esconde em cada poema.

Delicada, subtil a verdade dança quase sem tocar os pés no chão.

Vou à vila passear. O Alentejo adormece ao almoço. As ruas estão vazias. As janelas fechadas. Para que a pressa se o tempo por aqui se estende?

Volto para casa. Esqueci-me de comer. O corpo deixou de pedir alimento. Bebo um chá.

Babu senta a meu lado. Silenciosamente lambe meus dedos. Se eu não me alterar ele permanece quieto.

Se eu soubesse lidar com as minhas emoções as minhas acções seriam quase um poema. Um sopro de ar.

Saboreio uma quase tranquilidade desconhecida. Minha respiração ainda está acelerada – quase sinto falta de ar. O resto do corpo está em paz. A dor no estômago só aparece se a memória da dor me visitar.

Por agora importa o verde que escurece porque se despede o sol.

Por baixo das nuvens brancas se esconde um vermelho de fogo.

“- O que queres deste homem?

- A verdade

- Conheces bem a verdade

- É mesmo a verdade que não conheço

- Mas conheces a realidade

- A realidade não é a verdade. A realidade é apenas um pormenor.” (As velas ardem até ao fim. Sándor Márai)

Ela me falou da sua vontade em poder conversar comigo. Nunca encontrou esse tempo. A verdade das nossas vontades, quem de nós a sabe?

Lá fora me despeço da tarde. Vou encontrando sintonia com o tempo sem pressa. Cleo se você estivesse aqui lembraria meu sonho de fim de caminho.

Hoje vou sendo um pouco desse sentir.

O céu mudou de cor. Tranquilo adormece sem dor.

Véspera da partida. Oitavo dia (quinta-feira)

Quarta meditação

Continuo a adormecer com falta de ar. Esta sou eu agitada – o ar se esconde de mim.

Estou reaprendendo a dormir quase oito horas por noite. Há tantos anos que isso não acontecia!

Acordo pensando que deveria voltar para Lisboa. Resolver logo a minha vida, e uma infinidade de comentários aos resultados disto acolhem o meu amanhecer.

Venho para a sala meditar. Nada me dá mais prazer agora.

Adjan Brahm pede que tragamos generosidade ao nosso corpo. Já me sento mais facilmente. A dor na perna vai-se diluindo assim como a minha fiel companheira no estômago.

Vou encontrando o silêncio, vou encontrando paz.

Ainda não fui à praia. Vi o mar de longe. Meu corpo pede que me deixe estar. Não perca o foco deste momento em que existo.

Parece que o mundo cresce dia após dia. Uma flor que nunca vi. Uma nota que passou desapercebida neste maravilhoso noturno de Chopin. A migalha de pão esquecida na mesa. Preciosa é a vida.

Cada intervalo de silêncio pode ser ampliado até à plenitude deste imenso e fantástico vazio.

Tento ler o livro sintonizada com o tempo da chama que aos poucos se esvai. As velas ardem até restarem brasas. Devagar, sem deixar que seja eu a apagá-las antes do tempo. Renuncio à pressa.

Aceitar quem somos, com todos os nossos enganos. Reconhecer em cada um dos nossos actos a consequência dos mesmos, descobrir qual a intenção de cada um deles é renunciar à nossa vaidade.
A renúncia ao desejo insano, sombrio, leviano é um acto de amor. Não adianta lamentar o mal que fizemos enquanto perpetuarmos pela vida fora o mesmo padrão.

O verde ganha matizes com o amarelo ontem ainda escondido. Por onde ando Babu me acompanha. Se me sente inquieta se perde. Se me sento em paz lambe cada um dos meus dedos. Nenhum dos problemas ficou esquecido, por isso esta dor de estômago fiel companheira.

Regressar a Lisboa é voltar à procura da solução das coisas suspensas.

Levo comigo estes dias agora tranquilos.

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