17/08/2008

Um lugar desconhecido

Venho de um lugar distante que não precisa de carimbo para certificar a verdade. Se me perguntarem se fica a leste não vou saber o que responder. Trago ele na memória.

Quando me casei bastou um abraço e um beijo melado, promessa de amor. Não havia notários, nem padres para selarem as juras eternas segredadas na cama.

Venho de um lugar desconhecido – tão sonhado que acredito verdade.

Venho de um lugar que abraça o trabalho como se abraça um filho. Sem horas não bato o ponto – danço a cada encontro. Sem dinheiro compro a maçã no lugar do Senhor João. Sem cerimonia dou em troca o que sei fazer.

Sem horas trabalho sem dar conta da hora.

Venho doutras paragens. Não sei de cor a conta da luz, nem a do gas. Sequer sei a conta da água. Na mercearia me espanto, no supermercado sucumbo. Na esquina me amasso contra o vizinho apressado. No trabalho o chefe me ensurdece com a pergunta:

- Quantos 500 vale o teu trabalho?

Não faço ideia se muitos ou poucos. Não me lembro quantas de mim fui eu na troca da maçã.

- Quantos 500 pagam o teu aluguel? E a tua comida? E a escola do teu filho?

- Somam esses tantos 500...

- O teu salário não vale um quinto desses 500!

Venho de um lugar que não sabe responder quantos 500 são precisos para se viver com dignidade.

Venho de outras paragens – de um lugar desconhecido. Quem sabe sonhado.

Mesmo junto do coração.

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