17/05/2006



falo de um tempo em que não estive senão no tempo de estar

- Quando foi que ele partiu? – pergunta Cleo
- Fazem agora duas primaveras…- respondo sem hesitar na data
- primaveras?
- Sim. Foi na primavera que ele despertou. Eu costumava sofrer do mesmo mal. Um desejo de desejar o que já foi desejado. Mas isto - tantas primaveras antes…
- ?
- Nem sempre a alergia deu o tom das nossas primaveras. Lembro-me das horas passadas a ver a borboleta. Horas a fio, sem fim. O tempo sem tempo…
- Falas do quê?
- De um tempo em que não estive senão no tempo de estar…
- Lá estás de novo a bater mal..
- Por vezes uma tarde inteira a ver quantas vezes a borboleta batia as asas. Noutras eu era a primavera. Era o cheiro de um ar que só desejava. ..
- Regressa Ana!
- Gabriel só teve essa graça faz duas primaveras. Durante um ano viveu em todas estações.
- E agora? Onde está Gabriel?
- Talvez no Inverno…

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