09/02/2011

Cinema

Na escola, aos 16 anos, só gostava dos Lusíadas e da equações matemáticas. Fora dela, a vida acontecia todas as quartas- feiras, às seis da tarde, no cinema Império. Todos os outros dias eram a memória do último filme e o desejo da próxima quarta-feira.
Amores proibidos, paixões escaldantes e sempre um beijo prolongado na boca.
The End -  uma cortina imponente descansava o cinema. Meu corpo estremecia. Saliva na boca, a desejar nos meus lábios todos os beijos. Fui queimada e santificada, mulher da vida em todas as camas. Menina e moça sofri a morte do heroi. Vivi a dor injusta da guerra. Viajei pelo mundo. Andei de bicileta. 
Com o corpo suado dancei o tango nos braços fortes de cada um dos meus amados. Na calada da noite procurei em cada porto, o amor que embarcou sem dizer adeus. Com um lenço branco celebrei a paz. Fui a terra fertil de cada colheita. O sol quente em cada manhã.
Com cinema celebrei este amor sempre fiel, que se deita com todos os filmes. Sem nunca trair.


1 comentário:

  1. Cinema Império, o meu, o junto à Alameda, servindo-me qualquer sessão. Eu era o Robin, o Superman, o Tarzan, o Sheriff, o justiceiro... Eu era o maior, o de maior destreza, o mais ágil, o mais audaz e de tudo ser capaz... capaz de acabar com todo o mal, capaz de acabar com a injustiça e salvar, no fim, a rapariga. E só quando se aproximava a hora da brancura do ecran é que aceitava a figura de galã. Hoje não suporto as pipocas mas continuo a gostar de cinema e a sonhar com as minhas fantasias de salvador do mundo... Enfim, coisas de rapazes...

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