Enganei-me no verbo. Um verso bem feito deve ser todo refeito. Feito e refeito.
Antes que eu tivesse tempo de apagar e reescrever o sentimento, a verdade mostrou-me que todo o verso estava no avesso. Quem não conhece não sofre.
Faz um par de anos que estou à porta do Paraíso.
Dizia-se que uns merecem mais, outros que quase não merecem nada e por fim existem uns outros tantos que não deveriam merecer mesmo nada, mas o universo é generoso e fá-los acreditar que até a miséria é um bem a ser apreciado.
Estes últimos fazem-me lembrar aquelas meninas nos bailes de escola, que ficam sempre sentadas sabendo desde o primeiro momento que nunca serão convidadas para dançar.
Ainda agora cedi o meu lugar a dois amigos que mostraram pressa em entrar. Assustei-me com a voracidade dos dois. Esse querer tão claro contrasta com a ausência do meu.
Perto de alcançar o Paraíso, regressa o medo. Não basta chegar.
Sou como as meninas do baile que passam a noite sentadas.
Na sala há suor. Na cadeira a vontade de suar.
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