08/12/2008

Antes de deitar todas as noites esvaziava o coração

Antes de tudo, antes de qualquer começo deixa-me dizer-te que tenho comigo a caixinha de couro onde guardei todo meu tesouro. Não te apresses em querer saber, deixa-me contar devagar. Pouco resta na caixa, deixei que me roubassem cada beijo que guardei desde o primeiro que troquei. Não ficou um só. Nem aquele que ameaçou nossas linguas juntas sempre, nem todos outros.
Guardo na caixa a memória. Vou libertá-la. Deixar em paz quem roubou minha história.
Tocou cada um dos meus dedos envergonhados, pele crispada, boca seca, minha coxa no joelho dele. Foi assim o começo. Antes do primeiro beijo.
Invadiu minha boca. Inventou minha história.
Sem pedir licença, entrou no meu quarto, rebuscou minhas gavetas, espalhou meus segredos, abriu minha caixinha de couro. Quem rouba assim deve ter uma boa razão. Até hoje não sei quem foi o ladrão - que ele descanse.
Agora que te conto o resto Cleo, fico sem história.

Todos os dias
esvazio meu coração
Tão sagrados beijos
meu coração ainda cheio

Sem comentários:

Enviar um comentário