Entre nós e as palavras preguiçosas de noites idas passadas em prosa
Entre nós e as portas trancadas meninos vadios a rimarem com escória
Entre nós e as portas trancadas meninos vadios a rimarem com escória
Entre nós e os ais perdidos escuto a raiva silenciosa
Entre nós e as palavras mudas
Existe a vida vestida de prosa
Espera amor deixa que o sol pouse sem pressa
pelo tempo que prometemos existir
Petrónio casou com Canela como se tivesse o destino premeditado. Reza a lenda que Petrónio libertino consagrava o dia ao sono, abrindo a noite a outros prazeres. Augusto acreditava na força do nome a orientar a vida de quem sofre o baptismo, por isso disse à Maravilha que o filho seria Petrónio - o homem a quem fosse bastante existir.
À Canela caberia a tarefa de temperar a vida enquanto a Petrónio a de sorrir.
Encontrar a dose adequada do sal, gengibre, pimenta ou açúcar exige arte. Canela tinha na língua a memória de todos os paladares. Nos dias em que a alma ardia sua boca exalava hortelã.
- Petrónio, devagar com a malagueta! Saboreia.
Criança Canela saboreava o ritual de sua mãe quando se preparava para deitar. Devagar Virgínia tirava peça por peça que trazia colada no corpo. Docemente dobrava o vestido que seria o mesmo na manhã seguinte. Olhando para o espelho Virgínia penteava o cabelo. Mágico era o movimento dos seios libertos. Flácidos, caídos dançando felizes.
- Mamãe vamos brincar de vida?
- Agora?
- Sim mamãe. Deita na cama e fecha os olhos, agora é a minha vez.
Virgínia cansada, entregava seu corpo ao colchão de sua cama. De olhos fechados sorria. A pequena Canela empoleirava-se feliz em seu dorso.
- Mamãe vira para mim. Quero a tua cara.
Ritmadamente Virgínia rodava o corpo. Das ancas nascia o ventre, das omoplatas os seios, da nuca a face desejada pela filha.
- Agora vou te desenhar!
Atenta Canela demorava as mãozinhas em cada traço da mãe. Perdida no tempo viajava nas rugas que contornavam os olhos
- Mamãe quando nasceste já existia Terra? O mundo era feito de pó?
Quase dormindo Virgínia mantinha o sorriso.
- Mamãe você me empresta uma ruga? Quero uma que mostre o caminho do fim do mundo
Virgínia levava as mãos ao rosto, devagar acariciava cada ruga. Demoradamente escolhia a mais bonita
- Mamãe … quero essa!
Delicadamente colocava a ruga escolhida no peito da filha
- Quero na cara!
- Respira… deixa o ar entrar no teu peito. Agora larga tudo filhota
- E a ruga mamãe?
- Está viajando em ti. Um dia ela vai se fazer convidada na tua carinha marota.
Perdida no tempo, moça casada Canela encontrava a ruga emprestada.
Petrónio engolia a malagueta. Bebia água para apaziguar a dor. Sorria do gesto desajeitado. Vivia de acordo com a lenda – de dia dormia, à noite se abria a outros prazeres.
- Petrónio? Sabes brincar de vida?
Na mão direita de Canela repousa a memória do tempo que o sol levava a pousar. Tão longe esse tempo!
Existe a vida vestida de prosa
Espera amor deixa que o sol pouse sem pressa
pelo tempo que prometemos existir
Petrónio casou com Canela como se tivesse o destino premeditado. Reza a lenda que Petrónio libertino consagrava o dia ao sono, abrindo a noite a outros prazeres. Augusto acreditava na força do nome a orientar a vida de quem sofre o baptismo, por isso disse à Maravilha que o filho seria Petrónio - o homem a quem fosse bastante existir.
À Canela caberia a tarefa de temperar a vida enquanto a Petrónio a de sorrir.
Encontrar a dose adequada do sal, gengibre, pimenta ou açúcar exige arte. Canela tinha na língua a memória de todos os paladares. Nos dias em que a alma ardia sua boca exalava hortelã.
- Petrónio, devagar com a malagueta! Saboreia.
Criança Canela saboreava o ritual de sua mãe quando se preparava para deitar. Devagar Virgínia tirava peça por peça que trazia colada no corpo. Docemente dobrava o vestido que seria o mesmo na manhã seguinte. Olhando para o espelho Virgínia penteava o cabelo. Mágico era o movimento dos seios libertos. Flácidos, caídos dançando felizes.
- Mamãe vamos brincar de vida?
- Agora?
- Sim mamãe. Deita na cama e fecha os olhos, agora é a minha vez.
Virgínia cansada, entregava seu corpo ao colchão de sua cama. De olhos fechados sorria. A pequena Canela empoleirava-se feliz em seu dorso.
- Mamãe vira para mim. Quero a tua cara.
Ritmadamente Virgínia rodava o corpo. Das ancas nascia o ventre, das omoplatas os seios, da nuca a face desejada pela filha.
- Agora vou te desenhar!
Atenta Canela demorava as mãozinhas em cada traço da mãe. Perdida no tempo viajava nas rugas que contornavam os olhos
- Mamãe quando nasceste já existia Terra? O mundo era feito de pó?
Quase dormindo Virgínia mantinha o sorriso.
- Mamãe você me empresta uma ruga? Quero uma que mostre o caminho do fim do mundo
Virgínia levava as mãos ao rosto, devagar acariciava cada ruga. Demoradamente escolhia a mais bonita
- Mamãe … quero essa!
Delicadamente colocava a ruga escolhida no peito da filha
- Quero na cara!
- Respira… deixa o ar entrar no teu peito. Agora larga tudo filhota
- E a ruga mamãe?
- Está viajando em ti. Um dia ela vai se fazer convidada na tua carinha marota.
Perdida no tempo, moça casada Canela encontrava a ruga emprestada.
Petrónio engolia a malagueta. Bebia água para apaziguar a dor. Sorria do gesto desajeitado. Vivia de acordo com a lenda – de dia dormia, à noite se abria a outros prazeres.
- Petrónio? Sabes brincar de vida?
Na mão direita de Canela repousa a memória do tempo que o sol levava a pousar. Tão longe esse tempo!
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