13/07/2006


qual é a cor da dor da partida

chove granizo. chove pedra
como resposta



Um dia construo um caleidoscópio e viajo

Cleo chega no seu jeito acostumado. Devagar, apressada - gata manhosa com a garra afiada. Dá-me um beijo. Leva sua mão direita ao estômago. Ofegante diz:
- Ana já sei onde dói a dor do amor. Aqui Ana - bem no meio do estômago. Hoje quando o vi partir – é uma dor que não se esconde. Desavergonhada se faz visitada. Olha, dá-me a tua mão esquerda. Sentes?
- Não
Agitada Cleo insiste. Leva minha mão esquerda ao seu ventre. Com sua mão direita aconchega a minha..
- Olha para mim Ana
Desvio a face das mãos de Cleo. Meu olhar nos olhos de Cleo segura o segundo. Cleo leva sua mão esquerda a meu ventre. Aconchego sua mão com a minha direita. Sorridente Cleo segreda: - É esta a dor que sinto quando meu amor diz adeus
-Azul, vermelho, verde, amarelo, carmim, cobalto, mostarda, estrela alaranjada, a flor de lótus imaginada. Viajo no espaço. O céu é azul? Invento outra cor quando sinto o que sinto agora. Rodo devagar – como se sustentasse o tempo no movimento da minha mão. No intervalo o azul vira amarelo, a dor - o prazer saciado. Inverto a trajectória – perdi a imagem tão nítida outrora. Torno a rodar. Perdi o amarelo!
- Do que falas Ana?
- A tua dor é igual ao meu caleidoscópio. Não sentes amiga, o movimento da cor da partida? Não ouves o lamento das cordas – no limite da escala?
Cleo retira suas mãos. Desfaz nosso abraço. Abre os braços, levanta a cabeça ao céu e grita: - Oh tu! Pois tu mesmo diz-me qual é a cor da dor da partida?
Chove granizo, chove pedra como resposta.
- Dói Ana! Vamos embora? Temos de largar estas roupas molhadas.
- Olha Cleo! Lá ao fundo vês o arco-íris?
Assim parte Cleo no seu jeito acostumado. Gata manhosa com a garra afiada. Um dia construo um caleidoscópio e viajo.

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