28/09/2014

pardais

Toco a campainha, abres a porta e esperas que eu encontre ânimo para subir as escadas. Recebes-me com um sorriso e um beijo. Tens a mão direita carregada de migalhas. São para os pardais, dizes. Esperam por ti todas as tardes no parapeito da janela da sala de jantar.
Ontem estive com Pedro. Lembras-te dele? Disse-me que tinha aprendido o ofício de carpinteiro. Perguntei-lhe se seria capaz de fazer-me uma escada. Mostrei-lhe a que o Toino usou para pintar a fachada do prédio do avô. Quero uma muito maior. Tem de chegar ao céu e ao fundo do mar.
Ris divertido. Perguntas-me para que preciso de uma escada de tal tamanho se na de casa, com pouco mais de três lances, subo-a com dificuldade.
- Vou atravessar as nuvens! Quero ver o mundo de cima e se possível do fundo do mar.
- Vais precisar de um escafandro e de uma garrafa de oxigénio.
- Não boicotes o meu sonho. Achas que o Pedro consegue fazer a escada?
- Não me parece.
- Porque?
- Se o nome dele fosse José, talvez...
Os pardais batem no vidro da janela. Perguntas-me se te acompanho. Ainda que amuada, respondo que sim.
Faltou-me a vontade e o escafandro. A escada mal chega ao teto.
Tu moras agora em parte incerta.
Por onde andam os pardais?

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