19/11/2013

ano da fé

No lado esquerdo da cama descansava a cabeça que eu usava durante o dia. Dormia com outra - uma cabeça que amava a noite e tirava-me o sono antes do sonho. Quando as confundia o mundo parecia ficar de pernas para o ar. 
Saí da consulta com uma nova cabeça debaixo do braço. Veio penteada e maquiada. Na face algumas rugas de expressão que não denunciarão a minha idade.
Segundo a minha médica, esta nova cabeça ditará a minha conduta.
Em cima da mesa de jantar, a cabeça da noite serve agora de vaso. A de dia, foi jogada no lixo.
Um vizinho crente ofereceu sua cabeça ao regime. Vi-o noutro dia a servir de candeeiro.
Uma Hidra eleita, engravidou. Não é fácil alimentar uma família com tantas cabeças.
Cada vez que passo perto da mesa de jantar, meu coração acelera.
A cabeça fica com medo, ajoelha e reza. Não fosse este, o ano da fé.

Sem comentários:

Enviar um comentário